quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Quando eu voltar será para sempre






Refiz todos os passos que havia imaginado, inventei paisagens, descobri céus, mergulhei em meus olhos. Escrevi a narrativa do impossível, do que não é palpável, da pele da palavra antes de ser impressa no papel.




Comecei pelo deserto, lugar do silêncio infinito, dos céus tingidos de rubro, das raras espécies que sobrevivem à severidade do tempo, à falta ou excesso da luz, à alta altitude. Munida dessa essência fundamental, parei, observei, voltei ao início de tudo, para depois jogar-me ao abismo. Ali onde me perdi, quase enlouqueci, me descobri.


Caí com toda a velocidade numa espiral de contradições, sinas, sonhos. Apenas o não nos devolve o sim, o que é de verdade, o que ensina a mudar. A realidade mostra todos os dentes, escancara os medos, mas também nos acorda do pesadelo.


Recomecei do zero, recolhi as dores e os medos, e segui por essa trilha desconhecida e imprevisível. Marquei minha pele com palavras que viraram sangue: “Irreversível. Como uma palavra sem volta. Como um rio que corre. Como o sol em meus olhos”.


Como profecia, o improvável acontece, o som do sonho desenha o sim, há leões na porta do mistério. Vejo o mundo submerso que volta à tona para respirar, descubro paisagens possíveis, refaço a composição do sal, curo as feridas.




Por fim, retorno ao começo, de onde vim, o que sou, como se não houvesse outra possibilidade. Ando pelas ruas da minha memória, me absolvo. Preencho todo o vazio com silêncio e delicadeza, com a certeza de que quando eu voltar será para sempre.







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