Cerro de Monserrate, Bogotá - Colômbia ( outubro de 2016)
Enquanto houver flores amarelas, nada de ruim pode me acontecer. (Gabriel García Márquez)
Na paisagem impensável montanhas convivem com mares, sais, sóis, sons, ventos. De cima, o ar é rarefeito, escasso, incompleto. Uma vasta atmosfera cubista e desacelerada, entrecortada por nuvens e flores e cores e pássaros e plantas.
Na linha do chão, caos, beleza, certezas, tristezas. Fazer da miséria graça, fazer das dores abraço, fazer do rasteiro emoção. A ancestralidade e o recente passado crus como as ruas chamam a palavra morte e vida, sofrer e prazer ao mesmo tempo.
As esquinas exalam música, dança, ritmo, magias, superstições. O céu imprime as cores do presente, o mar as tintas do passado, a memória as peles do futuro.
Sem preparar, sem esperar, sem perceber, caem todas as defesas do teu sistema imunológico, te arrebata como um vírus, como algo que nunca se está preparado para enfrentar. Forte e rápido como vem, vai e te deixa mais forte.
Carrego sal para curar as feridas, diminuir a reação ao sol, aumentar o sabor, para recordar um tempo onde a substância valia ouro. Lembro que fomos um só, o cérebro, o coração, a magia, a palavra, a matemática, a precisão, a crença. Somos agora apenas vestígios de uma antiga civilização.
Num lugar onde as esperanças foram suspensas para dar vazão às batalhas da lida, às perdas, ao que não faz sentido, chega o momento de emergir, sair do fundo mar, pôr a cabeça para fora d’água, respirar novamente, aprender a olhar sem que ninguém cubra a vista.
Nas escadarias de pedra, as lágrimas se unem à dor e à alegria. Sempre se sabe quando algo é uma coisa só, que se chama, ou se transforma, em “realismo mágico”. Sereno, sabido, primitivo.
Não há contradição, não há linearidade, não há enganos, há apenas um punhado de sal, lágrimas e flores amarelas.
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