domingo, 9 de outubro de 2016

O silêncio da memória



Ocultar-me, distrair-me, ausentar-me. Todo o silêncio que habita os subterrâneos da memória. Toda a palavra engasgada e partida. O medo percorre as linhas dos hemisférios, sopra bem suave na sua nuca, desvia o olhar quando é encarado.


E invade e nos atravessa e nos distrai de uma dor qualquer. A dor esquecida,talvez nunca sabida, a que não nos damos conta, que não se imagina e não se inventa, que se torna real, que invade a vida de forma aniquiladora e irreversível. O pensamento não chega neste lugar, muito menos os sonhos.


Fragmentos de lembranças, fotografias rasgadas e diluídas pelo tempo. Não lembro mais o contorno do seu rosto, o desenho das pálpebras, o sorriso enviesado, não lembro mais das paisagens febris quando chegava o verão, da secura das tardes caídas, do céu abissal que se abria sobre os pensamentos, dos oceânicos porquês sobre a origem do universo.


Reinvento esse tecido invisível. Para lembrar uma dor, para esquecer outra, para saber qual a cor refletida nas luzes, para acordar e sonhar novamente.


Monto esse quebra-cabeça como se fosse uma maneira de existir. Desenho um percurso tênue, frágil, perigoso na cartografia do impossível. Quando fecho os olhos percorro essa narrativa para não esquecer-me. Em cada palavra escolhida, em cada poema, em cada gesto invisível, em cada silêncio guardado nas frestas da memória.

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...