quinta-feira, 21 de abril de 2016

Enquanto existir o mar



Entre o ruído e o silêncio, ouve-se o barulho do mar. O ritmo preciso das ondas quando arrebentam na areia, quando batem nas pedras, quando se percebe, mesmo de longe, o som.

O som que não sai do interior das conchas, não sai dos ouvidos atentos, não sai da imagem refletida nos sonhos, não sai da intensidade da palavra.
Ressoa, silencia, amplia.

Quase como um sopro, uma fuga, uma vertigem.
Olhos que não viram o mar blindam manhãs carregadas de ventos úmidos.

Uma ausência.

Enquanto existir o mar permanecerá o silêncio, a dúvida, a pausa.
A reverberação que se cria enquanto faz um mesmo movimento, com a previsibilidade da repetição, porém sempre com espanto – como as coisas que não tem fim – percorre as ondulações das lembranças.

O som do mar invade a memória, traz à tona os segredos, inventa os mistérios. Habita a paisagem febril, refaz a imaginação, invade os hemisférios, reconhece as distâncias.
Enquanto existir o mar haverá poesia, enquanto existir o azul haverá o branco, enquanto os olhos seguirem uma linha sem fim sempre haverá um novo começo.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Perto





Sou toda essa lembrança. Sou o viés do vento que sopra quando fecha os olhos. Sou o deserto que invade sua calma com a imensidão das horas guardadas no tempo.

A respiração é lenta, o pensamento não existe. Apenas a constatação da paisagem que surge violenta e precisa dentro das minhas manhãs.

Zero grau, voraz tecido da memória, imagem guardada na pele, sigo essa prece ao adormecer.
Porque quando sonho parece nítido o que sou. Visceralmente. Preciso dessa lembrança para não esquecer-me. Porque é nos extremos que se reconhece a dor e o sangue. O início e o precipício. O silêncio e a respiração. A linguagem adquire outro significado, aniquila os códigos existentes, o simbolismo universal, a sensatez dos dias certos.

Encontro na aspereza das circunstâncias, do palpável, do concreto, o que temia não mais lembrar. Com toda a fúria, com toda a fuga, com toda a vertigem que se sente quando olhamos para o abismo. Invento o nome de tudo que não é possível, fico com a única a palavra que não esqueço: perto.

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...