sábado, 26 de setembro de 2015

Entre os loucos e os bem-sujos, de repente, cara, você é mais um. Não adianta lembrar que você é íntimo da delicada poesia de Florbela Espanca e que, mais de uma vez, o prodígio de suas noites foi construído a partir de madrugadas sóbrias, a fumo, bombons e Jorge Luis Borges.”

Wilson Bueno.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

seu nome estranho




Não consigo pronunciar seu nome. Não porque seja difícil, seu nome é comum, mas toda vez que te chamo parece que esqueço e procuro outro nome. Memorizo, soletro, falo em voz alta, mas nada me alivia da sensação de estranhamento.

Esse ruído transpassa os contornos imprecisos da abstração. Não é palpável, não é concreto, não é real, mas ali existe algo que sussurra, assopra, avisa. Te chamo por outro nome. Você não gosta. Repito que não vai mais acontecer. Acontece. Sinal, superstição ou naufrágio? Quem sabe. Apenas quem sobrevive aos desastres pode contar o que viu.

Percebo o erro, o desconcerto, o deslocamento. Vem à tona as memórias ancestrais das palavras e o que elas carregam consigo. Como se fossem bússolas que avisassem que o mar está revolto, que o tempo muda de uma hora para outra, que há nuvens que chegam pesadas e fecham céus iluminados.

Continuo a pensar no seu nome estranho, seu nome indecifrável, seu nome miragem. Um dia vou conseguir dizê-lo no escuro, letra por letra, sem nenhuma dúvida que ele é realmente o seu nome. Mas, por enquanto, te chamo por esse nome estranho.

Publicado na Revista Ideias setembro 2015

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...