domingo, 8 de novembro de 2015

Nada mais claro que o esquecimento

Esquecer de você faz esquecer-me de mim. Faz passar para outra margem do tempo onde eu não vejo mais flores, onde não ouço mais música, onde meu sonho encontra outra paisagem.

Assim que abro os olhos.

Tudo começa antes da tempestade, quando vem o vento oblíquo que corta meu rosto com seus segredos perto dos meus cílios.

Fecho os olhos.

Para voltar àquela cena em que te olhava infinitamente até adormecer. Encontro o tempo em que andávamos sem rumo, de mãos dadas, à espera do anoitecer.

Imensamente frágil. Violentamente doce.

Quando percebo que acabou.

Nada mais claro que o esquecimento.

Esqueci uma parte minha, esqueci uma rima, esqueci de como eram seus olhos. Esqueci do seu cheiro. Da mesa, do ritmo, da dúvida.

Suspensa no ar.

O reflexo do sol queima minha retina, minha pele, espalha pela aridez da memória os segundos do tempo. Seguro isso como grãos de areia nas mãos fechadas.

Dissolve, voa , esvai.

Sinais do outro hemisfério, da longa trilha que se percorre sozinho.

Um oceano se abre. Sinto a chuva escorrer sobre meus cabelos. Mergulho dentro dos meus olhos, eles são a minha chegada a um novo mundo.

Voltei à tona, catei as conchas no caminho, lembrei de mim como um sonho que chega ao fim.


Publicado na Revista Ideias- novembro 2015

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...