Balé indecifrável de gestos, respiros, chão. Fazer a poesia bailar no ar e ceifá-la, marcá-la, reparti-la.
O matador domina a paisagem, veste-se com cores fortes e tecidos justos, segue com os ombros ávidos, matemáticos. Na arena, quando seus olhos estiverem mergulhados no ritmo seco, conduzirá a dança mortal.
Nascerá assim o idioma ancestral, a caligrafia com os nervos expostos, a pele queimada de tantos sóis.
“onde foi palavra
(potros ou touros
contidos) resta a severa
forma do vazio**”
Viver é tourear, escrever-lhe sobre a terra batida, como se nada mais houvesse além de seu silêncio.
Toureia-me.
*trecho de “Lembrando Manolete”, de João Cabral de Melo Neto
**trecho de “Psicologia da composição”, de João Cabral de Melo Neto
Publicado na Revista Ideias julho 2015
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