sábado, 11 de junho de 2016

Vertigem



Vertigem, salto no escuro. O mundo vira literalmente de cabeça para baixo. Sensação de voo, mas queda livre. Nada segura, nada sustenta, nem a respiração lenta que pausa o movimento.

Sem estabilidade, firmeza, chão. Neste momento as palavras caem como estrelas, cobrem o corpo inundado de incertezas. A falta de equilíbrio inverte a paisagem horizontal, formal, linear. Encontro um novo caminho.
Deito, fecho os olhos e lembro que quando isso acontece as cores mudam, as dimensões aumentam, os sentidos chegam mais longe, o livro que estava em cima da mesa cai, como uma folha da árvore.


Cada objeto distrai da sua função, as coisas mudam de lugar e dançam no escuro. O medo vem em forma de vento forte, daqueles que só se veem em dias de tempestade. Mudanças, presságios, sonhos em que se sente a respiração e a textura da pele.

Em um tempo que não sei calcular – acredito que seja instantâneo, embora pareça uma eternidade – um labirinto de vozes, coisas, nomes, palavras ressoa em meus ouvidos. Como zumbido de insetos quando invadem uma plantação.

Permaneço inerte nesse estado próximo à vigília, percorro os caminhos que possam chegar aos lugares mais distantes, abro as janelas, deixo o vento entrar pela porta, escrevo mais um capítulo nas silenciosas manhãs tingidas de branco – quando abre, quase sem querer, a página do livro de Mário Quintana onde está escrito: “sonhar é acordar-se para dentro”.



Com você não há verbo no passado

Seu pretérito é sempre presente

No meu imperfeito futuro

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...