quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Cego à noite




Não ouço mais nenhuma voz. 

Oco, passa o vento, nenhum sinal. 

Eu cantaria você, faria música para vestir, rasgaria meus poemas, calaria meu mal. A saída está no canto da porta, naquele olhar invisível que perpassa o meu sentido. 

Caí mais um tom, caí sem voz. Ouço o barulho da chuva apenas. Minha epiderme não respira, absorve. Minha pele rasga a dor, meu sonho perdeu o fim.

Cego à noite, perco meu trilho, busco as lembranças ao amanhecer. Meus olhos não abrem mais, carregados de mar.

Permaneço na tempestade, neste tempo suspenso. Minha saliva tem gosto de sal, minha febril vertigem  persegue a salvação. 

Todo o universo veleja nessa paisagem sem cor.

Seria onde busco os tigres de capa branca e negra. Seria onde o rugido do mar afunda no abismo do continente. Seria onde a palavra, que gasta, que valha, que dá o sentido à arma, foi apontada para minha cabeça. 

Coração partido não é metáfora.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Lhe dou uma eternidade



Lhe dou uma eternidade

Que acaba em qualquer instante

Não importa o que as palavras digam

Afinal só importa o que está aqui

Dentro da minha mão

Corre nos meus pulsos

Sem soltar

Sol, suor, saliva, sangue

Tenho você para meu mar em mim

Durante a eternidade

Que acaba em qualquer lugar





terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Salto




Espelho, vazio, salto

Nada mais longe

Nada mais perto



Meu mar sobre mim

A paisagem em dobras

A palavra árida

Gasta pelo tempo

Ressurge no seu pensamento



Viro a esquina

Descubro seus ângulos obscuros

Percorro as manhãs

Que me dizem que o vento

Sopra

Sempre

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...