quinta-feira, 29 de outubro de 2015



"Censura, eu não tenho nenhuma. A minha proposta é, justamente, a anticensura. Coloco em minha obra todas as máscaras possíveis: o sórdido, o imundo, o terrível. Todas as caras horrorosas, as vergonhas. A proposta é esta: de colocar tudo. Então, não há censura."

Hilda Hist

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Não existe mais lugar algum



A paisagem inverteu, o sol caiu, o mar inundou os olhos. Não existe mais lugar algum. Acabou. O imaginário mudou para sempre, a criança estendida na praia vai continuar ali, trazida pelas ondas, levando para sempre a delicadeza. Não seremos mais iguais diante disso. Ou espero que não.

Partimos para outro hemisfério, aquele que não cria raízes, aquele que não aprendeu a andar, aquele que ficou completamente surdo e cego, aquele que não tem chão, nem cama, nem sonho.

Antes ficasse para sempre a imagem da criança, do mar, do sol ligada à certeza, à esperança, à alegria. Antes chegasse pelas marés o sorriso, a leveza, a ventania. O deserto invadiu o mar. O mar cessou a poesia. As ondas refletem o céu.

Não há redenção. Não há salvação. Existe apenas o abandono, a tristeza, a devastação. Nessa terra sem bússola, sem margem, sem saída, partimos para lugar algum, seguimos blindados enquanto as crianças chegam trazidas pelas marés.


Publicado na Revista Ideias/outubro

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...