sexta-feira, 1 de abril de 2016

Perto





Sou toda essa lembrança. Sou o viés do vento que sopra quando fecha os olhos. Sou o deserto que invade sua calma com a imensidão das horas guardadas no tempo.

A respiração é lenta, o pensamento não existe. Apenas a constatação da paisagem que surge violenta e precisa dentro das minhas manhãs.

Zero grau, voraz tecido da memória, imagem guardada na pele, sigo essa prece ao adormecer.
Porque quando sonho parece nítido o que sou. Visceralmente. Preciso dessa lembrança para não esquecer-me. Porque é nos extremos que se reconhece a dor e o sangue. O início e o precipício. O silêncio e a respiração. A linguagem adquire outro significado, aniquila os códigos existentes, o simbolismo universal, a sensatez dos dias certos.

Encontro na aspereza das circunstâncias, do palpável, do concreto, o que temia não mais lembrar. Com toda a fúria, com toda a fuga, com toda a vertigem que se sente quando olhamos para o abismo. Invento o nome de tudo que não é possível, fico com a única a palavra que não esqueço: perto.

Nenhum comentário:

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...