sexta-feira, 30 de junho de 2017






O deserto é Deus sem os homens – Honoré de Balzac 


Silêncio. Imensidão. Presente. Nada é mais arrebatador do que o deserto, nada é mais perto, nada é distante diante da colossal paisagem. A temperatura muda, o corpo transforma, a respiração diminui, os passos são lentos. O tempo é outro. Transcorre sem precisar contá-lo.


Na pele, as cicatrizes invisíveis aparecem, antigas e profundas, feitas por descuido, por zelo, por esquecimento. Transbordam. O pensamento se esvai, como a areia soprada pelos ventos, como algo não palpável, como se não precisasse existir.


Pausa. Respiro. Branco.


A luz entrecorta os contornos das pedras, do azul, o mais profundo. A vida acontece de forma rara, assim como a delicadeza persiste em meio a estados brutos, áridos, ausentes.


O tamanho exato, a medida do que é apenas o essencial, o que não sobra, o que cabe nas palmas das mãos.


Espelhos de céus, montanhas, cores. Reconheço traços que havia perdido, percorro a cartografia do impossível, do mapa ancestral vestido de peles e nuvens, com o sol colado na retina.

Um comentário:

marco jacobsen disse...

nesse imaginei uma ilustração incrível! se for editar um livro, não deixe de considerar ilustrações. assim como o Julio Cortázar seu texto é bem gráfico :D

Mar alto   Mergulhar em mar alto, sonhar em águas profundas.   Transformar o abismo em ponte para navegar sem turbulência, para prov...