Sinto o pulso descompassado, a respiração pausada, a interminável fuga para outro universo, a onda que bate nas costas, as tentativas impossíveis de lucidez.
Basta um impulso, um gesto, a insensatez.
Em segundos a tempestade se dissipa, percebo a formação de nuvens em um céu que torna-se claro, no vento que sopra, na paisagem que se abre.
A dimensão exata, o lugar certo, a linearidade precisa do gesto. O caos transformado em sentido, o vazio convertido em silêncio, a palavra impressa na pele no assimétrico percurso das letras, do corpo, do sangue.
Absolver as dores e criar memórias na escrita, que escuta e acalma. Como quando ouço um segredo, quando danço no escuro, quando sonho profundamente e acordo sem saber onde estou.
Escreva-me, percorra-me, anoiteça-me.
Busca-me entre os vãos, entre as peles que se desfazem sem vermos, que se perdem e se refazem.
Encontro o lugar em que tenho a medida exata dos contornos imprecisos das linhas da minha mão, dos mistérios não revelados incrustados nas conchas que guardam a música dos oceanos.
março 2017
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