Perder-me, dissolver todos os tecidos da pele, refazer-me. Em um segundo, passo do sonho ao concreto, deixo as cicatrizes mais profundas, abro outras, sangro por todas as frestas, desapareço.
Um dia paisagem, sol, plano. Uma vida toda.
Num instante, o céu muda, o vento sopra.
Prenúncio de tempestade.
Caí no abismo sem fim, percebi a veia dilatada do meu pulso, os olhos cheios de silêncio e lágrimas.
Percorri as pausas das linhas das mãos, abri as janelas, escancarei todas as dores e revirei as palavras − dissecando letra por letra as últimas escritas − as que revelam, as que maltratam, as que fazem acontecer a cisão.
Encontrar, um dia, quiçá, as flores abertas no jardim, sentir novamente o cheiro dos jasmins à noite, parar o horizonte e ver nos seus olhos a intensidade da certeza, o meu reflexo na sua pele interminável, o porto-miragem compassado às batidas do coração.
Em um dia, por uma vida inteira.
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