O azul, o mais profundo. Toco no fundo do mar o som que não se ouve. Não é possível aos ouvidos humanos. Acontece de repente, como um soco ou algo que se vê na distração. Detalhe invisível, espelho que não reflete, o abissal mundo submerso, as ondas sem cor, a cor que brilha no escuro, a palma da sua mão sem as linhas, a pele cor de opala, a luz uma só. Palavra de silêncio. Borboletas brancas voam em torno dos peixes. Lá, onde existe o outro plano, os sons dos sonhos, o céu invertido de estrelas, onde anoiteço.
Olho nos seus olhos dentro d’água. Não reconheço. Não me deixe sozinha quando me olhar novamente. Reconheça-me. Segure minhas mãos. Não deixe que eu solte. Ensina-me suas frases, letra por letra, invente nosso idioma. Deixe que fale sua língua. Quando estiver dormindo, soletre meu nome no escuro. A manhã chegará mais tarde, a névoa terá se dissipado, e lerei o bilhete que você deixou em cima da mesa com um aviso para lembrar-me que isso não foi apenas um sonho.
Dizem que as palavras possuem segredos, que apenas algumas pessoas sabem. Apenas quem as domina pode ter este acesso. Apenas quem sabe o que está entre as coisas. Apenas quem as têm perto.
Posso dormir sem medo, ver as tempestades surgirem, criar a palavra abissal, aquela que subverte a ordem linear das estreitas esquinas, a cama arrumada, a mesa posta com os talheres certos. Construo a ponte para poder atravessar ao outro lado da margem, vejo novamente seus olhos submersos, reconheço-me.
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