Habito o lugar onde estão todos os medos, a soma das cicatrizes que marcam e não aparecem, que doem e ninguém sabe.
Dentro, por dentro, sob a pele, sob o sangue.
Viajo para este lugar que não existe.
Esqueço de mim, me abandono, vejo flutuar as palavras que transpassam as linhas horizontais. Inalcançável.
Meu nome é longe.
Perco a bússola, sigo o vento, aviso a chegada da primavera, caio como o sol que se põe todos os dias, espalho pelas minhas mãos a chuva à espera da terra.
Assim, sutil como o eterno, inevitável como o sonho, delicado como o fim, escuro como a tempestade que subverte os céus e proclama sua morada, encontro a cartografia repleta de sinais, sons, mistério. Cubro todos os espelhos e os viro contra a parede. Aprendo a esquecer.
Nesse mundo submerso resgato as palavras, aquelas que exilaram-se, aquelas que carregaram com toda a intensidade a certeza das manhãs inundadas de poesia.
Imagem: Obra de Francisco Faria. Mares do Levante
Publicado na Revista Ideias/dez 2015
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