Naquele instante o mundo ficou suspenso, como se todas as manhãs congelassem para sempre. Os ventos de abril sopravam como se precisassem avisar sobre o futuro. Cada folha caída espalhava pela rua sua certeza e esperança. Como se houvesse uma saída, uma salvação, um canto que pudesse fazer você passar com suavidade pelos espinhos, que te trouxesse o mar, essa noite líquida que transforma os sonhos. Lhe mostro a delicadeza da chuva, leio o silêncio nas suas pálpebras fechadas, invento um idioma único, vejo o céu tingido de rubro.
As cicatrizes são a história da memória, das tempestades ferozes, da calmaria paralisante após o cansaço. Percorro toda a cartografia das suas linhas enviesadas para desenhar meu rosto.
Meus olhos profundos são seus.
Olho para o céu novamente, o tempo suspenso ficou cravado naquela manhã. Afinal, ainda era abril e suas manhãs são intermináveis.
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