terça-feira, 25 de novembro de 2014

O silêncio habita meu lar, denuncia a angústia do esquecer, de passar à memória e pausar na pele para virar cicatriz. São as esquinas, são as dobras do tempo, são as palavras que não bastam, são aquilo que não tem nome. Depois da tempestade vem o seu rosto, vem todo esse futuro do passado, o som de algum lugar que existiu. A paisagem perpetua minha espécie.
Há um céu disposto a ouvir as preces, há a embriaguez constante do andar a esmo, a vaga lembrança do anoitecer. Chove. Tudo sem hora. Suspenso. Dias que são noite. Noites que viram água. Água que cai na pele. Salgada. Crua. Silêncio. A não ser pelas gotas, pesadas e grandes. Ouço risos ao fundo com música. Nada sai do lugar. Crio uma espécie de asa nessas horas lentas que não se repetem.
Algo além do mar está à minha vista, mas não enxergo. Persigo isso como se fosse o fogo. Como se fosse um pulo para o outro lado da ponte, do outro lado da margem. Na margem oposta. Carrego essa sensação de tristeza com tranquilidade. Por dentro tudo salta. Por fora, placidez. Caso fosse um destino, um sinal ou rima.
Faço uma incisão na pele, corto, abro uma fenda, espalho dentro da epiderme um oceano de palavras insulares, ventos fortes, verbos líquidos, olhos úmidos. Penso em partir, como se não estivesse mais em mim. Esqueço-me, anoiteço e nasço para poder enfim despertar de novo.
Aterrisso, decifro os sonhos, abro os olhos.
Dobro a folha escrita para que alguém descubra no viés da linha a palavra reinventada.O mundo permeia meu instante no momento que o sol se abre, infinito, para o horizonte febril. Suave como aquele lugar onde somos felizes, onde pisamos forte na terra, onde ouvimos a tempestade que chega, onde a pele é perto, não mais longe. - See more at: http://www.revistaideias.com.br/?/colunistas/96/marianna-camargo/#sthash.hOudwAta.dpuf

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