Ouve-se o barulho das ondas. A onda vai, bate, recua, volta. Silêncio. Sete segundos.
Barulho, silêncio, recuo. Sete segundos. Tempo que passa na brevidade da memória. Memória inconsolável. Tempo que calculo para tragar um cigarro com fúria, na dose do álcool, na química, no desespero. Naquele instante suspenso, que a noite engole na sua imensa escuridão, a vida se esvai em segundos, precisos, contados, inexoráveis.
Pela janela, vento. Pela tristeza, pesadelo. Pelo sonho, voragem dos teus pensamentos.
São sete segundos da falha, da palavra dita – feroz e aniquiladora –, da arma apontada, da bala que atravessa o crânio, quanto tempo leva para te esquecer, da razão contra tudo, do abandono, refém da sua armadilha, do vício que não larguei porque é impossível viver de lucidez, das linhas marcadas da tua mão, do café que passo toda manhã porque me lembra você, gaiolas com pássaros e peixes furta-cor, do coração partido em mil pedaços desiguais e isso não é metáfora, do corte dos oceanos em degraus submersos, da matemática imprecisa dos gestos, da delicadeza sem fim, daquele amor que um dia aconteceu, da fala, do silêncio, das esquinas batizadas de medo, do trago líquido do esquecimento, da vigília do sono subtraído, dos tigres brancos em volta das árvores, das centenas de fagulhas que escaparam pelo céu, da água que bate na rocha, daquele instante em que se partiu. Anoiteço, para poder sair de mim.
A onda vai, bate, recua, silêncio. Sete segundos. Meus olhos de pássaro voaram para ti.
Para sempre.
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